terça-feira, 27 de novembro de 2007

Site colaborativo ensina os professores a ensinar

Victoria Shannon


Muitos professores e bibliotecários instruem seus alunos a não confiar na Wikipédia como fonte de pesquisa. A enciclopédia online de autoria aberta e coletiva, afirmam, pode ter seus usos, mas o número de colaboradores anônimos e não fiscalizados ¿ sem mencionar os adeptos do vandalismo puro e simples - não permite que lhe seja atribuída autoridade acadêmica. O que devemos pensar sobre a Curriki.org, então? Trata-se de uma organização sem fins lucrativos - criada originalmente pela Sun Micrososystems -, que como a Wikipédia aceita contribuições do público geral, mas tem por objetivo ensinar os professores a ensinar.
Credibilidade é um grande obstáculo ¿ se bem que não o único - à "wikipédia curricular" da Curriki, concebida por Scott McNealy, presidente do conselho da Sun. McNealy e outro dos co-fundadores de seu grupo, Andreas Bechtolsheim, investiram suas fortunas pessoais para permitir decolagem rápida à Curriki.
"Parecia-me que já que estávamos fornecendo browsers, programas de planilhas e sistemas operacionais de fonte aberta, manuais de matemática para a terceira série poderiam ser providenciados da mesma maneira", disse McNealy em recente entrevista, em Paris.
Apontando que os gastos dos norte-americanos com livros escolares atingem os US$ 4 bilhões ao ano, McNealy disse que "isso parece brincadeira. Nada mudou desde que a maçã caiu na cabeça de Newton. Por que não podemos aproximar esse custo do zero o mais possível, e dedicar o dinheiro em lugar disso a pagar professores? E por que não fazê-lo no mundo inteiro?"
Suas perguntas, ainda que retóricas e simplificadas, estão começando a ser respondidas. Embora a Curriki tenha atraído 35 mil colaboradores e iniciado parcerias experimentais com serviços de educação públicos na Índia, Coréia do Sul, Reino Unido, Canadá e outros países, ela ainda não assinou com nenhuma das grandes editoras mundiais de livros didáticos.
Mas a Curriki espera anunciar em breve uma parceria com a Sesame Workshop para oferecer planos de aula relacionados aos novos personagens da Sesame, bonecos de animação conhecidos como Panwapa. Barbara Kurshan, diretora executiva da Curriki em Washington, disse acreditar que o acordo seja "um grande avanço" na direção de atrair editoras didáticas importantes, devido ao destaque do nome Sesame.
O grupo também está negociando com um grande grupo norte-americano que não opera no setor editorial e cujo nome ela não revelou. O grupo forneceria conteúdo para aulas de ciências à Curriki, em um teste para determinar "como o material de fonte aberta poderia melhorar seus produtos", afirmou Kurshan.
E também fechou acordo de acesso ao conteúdo do site da Cambridge University Press, de acesso pago, que permitirá o uso do conteúdo educacional com direitos autorais liberados, em um projeto conhecido como Global Grid for Learning. As editoras, disse ela, poderiam se beneficiar de algumas maneiras quando oferecem acesso aberto ao seu conteúdo exclusivo. Na Curriki, elas teriam acesso a uma comunidade de educadores que no futuro poderiam se tornar autores de seus livros didáticos. E também poderiam distribuir seu conteúdo em mercados geográficos diferenciados, que normalmente não estariam ao seu alcance.
E o fato de que a Curriki funcione com "fonte aberta" não impede que a informação seja comercializada, apontou Kurshan. Só requer que o conteúdo continue a ser oferecido de forma aberta, nos termos do contrato de licença do software de fonte aberta.
Enquanto isso, educadores de todo o mundo, muitas vezes isolados dos mais avançados métodos disponíveis em suas áreas de ensino, poderiam obter planos de aula e currículos completos para temas ou séries gratuitamente, no Curriki.org.
Os professores também podem usar as ferramentas online, desenvolvidas pela Sun e por um grupo francês de software de fonte aberta chamado XWiki, para compartilhar recursos com outros profissionais, escrever um livro didático ou montar um currículo com base no conteúdo que o site oferece, disponível até agora em inglês e híndi.
Em um esforço por reforçar a credibilidade do projeto, o grupo recentemente se aliou à AARP, a associação dos aposentados norte-americanos, para recorrer aos serviços de antigos professores e outros "especialistas temáticos" que avaliam os currículos postados. O conteúdo oferecido pelos voluntários também passa por dois estágios de avaliação conduzidos pela Curriki mesma.
Mas o progresso é lento. Nem a "universidade" online criada pela Wikimedia Foundation obteve a mesma popularidade da Wikipédia, que recebe 47 milhões de visitantes ao mês.
"Acredito que isso se deva à necessidade de controlar de perto o que fazemos ¿ a maneira pela qual obtemos certificações, aprovações dos professores ao uso, o processo de revisão", diz Kurshan. "Não temos o luxo de publicar uma informação incorreta sabendo que, dentro de 20 minutos, alguém surgirá para corrigi-la".
A organização sem fins lucrativos, que tem orçamento anual de US$ 2 milhões, disse que esperava usar a Internet mesma como recurso de marketing. "Os professores, pais e alunos são muito eficientes em encontrar recursos que facilitem sua vida ao ensinar ou aprender alguma coisa", diz Kurshan.
Para acelerar esse processo viral, os criadores de software do grupo estão trabalhando em um aplicativo que permitiria que membros de um site de redes sociais, como o Facebook, publicassem conteúdo no Curriki sem que precisassem sair do site que originou a visita.
Herald Tribune

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