sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Inclusão Digital?

Algumas coisas passam despercebidas no nosso dia-a-dia.
Precisei ler o texto de Denize Correa Araújo, O caráter pseudo da inclusão dital, alguns dias antes da prova de Comunicação e Tecnologia para dar um outro sentido a algo que, de certa forma, aconteceu comigo há alguns dias atrás.
À primeira vista, me pareceu uma situação engraçada. Na verdade, continuei achando engraçado até ler tal texto e perceber que se trata de algo bastante problemático.
Tenho uma vizinha que trabalha como diarista. Numa sexta-feira, há mais ou menos 2 meses, ela chegou na minha casa, pontualmente às 9 horas como de costume para trabalhar.
Ela é uma pessoa muito feliz, mas naquele dia estava particularmente animada e logo foi falando:
-Josci, vem cá ver meu celular novo!
Desci as escadas quase correndo. Era uma espécie de intimação.
Ela me contou, entusiasmadamente, que havia comprado um celular novo. O lançamento da loja: “É incrível! Cabe um monte de música! Tira fotos. Faz vídeos”.
Eu também achei o aparelho lindo. Era um Nókia, com tecnologia bluetooth, 516 MB de memória, uma câmera com ótima resolução e etc .
Até aqui, nada de mais, afinal, esse tipo de celular, apesar de ainda ser economicamente inacessível para grande parte da população (a mulher de que falo, por exemplo, dividiu o pagamento em 12 parcelas), é cada vez mais vendido.
O interessante de toda essa história é que ela não sabia como utilizar todas as vantagens do aparelho. Não tinha noção de como gravar e salvar vídeos, de como baixar ou converter músicas para ouvir no celular, de como enviar torpedos MMS, e nem imaginava o que era a tal tecnologia bluetooth da qual o vendedor tanto falou. Mas o celular era lançamento e cheio de características que lhe pareceram interessantes. Por isso comprou.
Dessa forma, ao ler o texto de Denize, me dei conta de como os problemas lançados pela autora são verdadeiros. O simples fato de alguém estar em contato de uma tecnologia avançada nem sempre implica em ela fazer uso adequado ou satisfatório dela. A diarista, mesmo possuindo em suas mão um aparelho com um potencial interativo imenso, continuou usando o celular apenas para realizar chamadas de voz. Nem mesmo a função SMS ela usava.
Ela comprou o celular não para desfrutar das inúmeras possibilidades comunicativas e criativas que o aparelho poderia lhe proporcionar, mas para ser proprietária de um celular de última geração, não importando o uso que fosse fazer dele.
Dessa forma, pude compreender melhor o que Denize quis dizer quando afirmou que o simples fato de ter acesso a uma mídia não implica em as pessoas estarem digitalmente inclusas. As inúmeras propriedades do celular da diarista que citei em nada mudaram a forma como ela se relacionava com o mundo e com as outras pessoas. Possivelmente, se ela não possui um controle para o DVD, continua levantando do sofá para dar play e pause no filme, mesmo podendo utilizar o aparelho celular para isso.
E, apesar de poder estar conectada constantemente à internet através desse mesmo aparelho, ela nem mesmo sabe como fazê-lo. Então, poderíamos chamar isso de inclusão digital, mesmo ela não sabendo como utilizar o aparelho? Que tipo de inclusão digital é essa que apenas facilita (?)o acesso às mídias e tecnologias, mas não ensina como utilizá-las?

Um comentário:

Islene Santos disse...

Pois é.Esse é um ótimo exemplo para comprovar a idéia central do texto da Denise.Gostaria apenas de salientar que ao contrário do que muitas pessoas pensam,essa pseudo inclusão digital não é característica apenas dos desfavorecidos economicamente.Tenho uma amiga que pertence a classe média,possui um computador com internet banda larga,e mesmo assim só acessa a internet para ler e enviar emails e participar de sites de relacionamentos socias(orkut,messeger e blogs)