terça-feira, 23 de outubro de 2007

Empresas criam sites fechados para condomínios

The New York Times
O Facebook e o MySpace conquistaram popularidade junto às pessoas que desejam manter contato social com gente que não vive por perto. Mas será que as pessoas usariam redes sociais a fim de conhecer melhor os seus vizinhos? Essa é a esperança de pelo menos uma empresa iniciante, a LifeAt.com, que deseja dar um toque local ao mundo das redes sociais.

A empresa cria sites de acesso fechado para condomínios e conjuntos habitacionais, nos quais os residentes podem postar fotos e informações sobre eles mesmos, indicar seus restaurantes favoritos no bairro e se queixar de elevadores lentos e pintura mal feita nos corredores.

"Gosto muito da idéia", diz Charlene Li, analista da Forrester Research. "Morar no mesmo prédio tende a significar que as pessoas compartilham de antecedentes socioeconômicos e interesses, e oferecer informações aos vizinhos sobre os lugares em que você gosta de comer e suas lojas preferidas pode tornar o conceito muito relevante".

Li disse que sua única reserva quanto ao projeto era o fato de que talvez seu apelo se limite às grandes cidades, e que a LifeAt pode enfrentar dificuldades para gerar receita publicitária local sem ajuda, já que a maioria das empresas locais não está acostumada a adquirir publicidade online. O mais provável, em sua opinião, é que o grupo tenha de obter anúncios por meio de empresas como o Google, rachando comissões.

Matthew Goldstein, vice-presidente de operações da LifeAt, disse que a empresa está dando os retoques finais em sua estratégia de publicidade. Por enquanto, o grupo sediado em Brooklyn está sobrevivendo com os US$ 6 mil que recebe em taxa de adesão de cada condomínio que assina o serviço. A empresa não cobra taxas anuais dos condomínios a que atende.

Desde que a LifeAt entrou em operação, em março, mais de 335 condomínios aderiram, e outros 600 devem estrear seus sites LifeAt antes do final do ano. A empresa não divide com os condomínios as receitas publicitárias que obtêm, no momento, mas Goldstein afirma que isso pode mudar. Entre os condomínios que dispõem de sites na LifeAt, diz Goldstein, os moradores de 64% das unidades residenciais criaram perfis online. Os administradores de imóveis, que fornecem as senhas e os nomes de acesso aos moradores, também usam os sites para postar notícias sobre trabalhos de manutenção e unidades disponíveis.

Os perfis criados pelos moradores se assemelham aos que existem em outros sites de redes sociais. Os usuários postam descrições e fotos em páginas pessoais, bem como fotos dos amigos que têm no edifício. Na seção "mercado", eles podem publicar classificados gratuitos para móveis velhos, eletrodomésticos e serviços de babá, além de dicas sobre restaurantes e empresas locais.
Alguns meses atrás, Tara Brooke, conselheira de gestação e parto que vive em um condomínio de 300 apartamentos na região sul de Manhattan, postou um anúncio de seu serviço, o Power of Birth, no site do condomínio na LifeAt. Recebeu tantas respostas que terminou por abrir um escritório no SoHo e contratou funcionários. "O anúncio tem um tom muito mais pessoal porque vem do lugar onde as pessoas moram", ela afirmou.

Brooke afirma que as conexões pessoais criadas por meio do site foram mais superficiais, ainda que ela reconheça que o sistema permitiu que desenvolvesse relacionamentos mais amistosos com os vizinhos. "Não sou solteira mas, se fosse, com certeza usaria o site para procurar um namoro", disse. "Ele tem um pique de MySpace mas é muito mais íntimo porque você sabe que aquelas pessoas estão de fato ao seu alcance".

A LifeAt não é a primeira empresa a experimentar com essa abordagem, mas parece ser a primeira a gerar faturamento respeitável com ela. Desde o final de 2004, a MeetTheNeighbors.com, uma empresa de Manhattan, vem operando um site de redes sociais para moradores de apartamentos.

O site, de acesso gratuito, tem 15 mil usuários, e no ano passado começou a atender também moradores de Boston, Londres e Dublin. Jared Nissim, o fundador da empresa, opera o site como um apêndice de seu negócio principal, o Lunch Club, cujo objetivo é ajudar pessoas desconhecidas a se encontrarem.

Nissim afirma que alguns edifícios têm sites muito mais ativos do que outros, graças em larga medida aos esforços dos voluntários, em cada condomínio, que se responsabilizam por administrar o conteúdo do site. "Uma das falhas de nossos sistema pode ser o fato de que dependemos de um contato primário para dar o impulso inicial a uma comunidade", ele diz.

Já no caso da LifeAt, o serviço de cada edifício é supervisionado por um representante da empresa, que passa alguns dias registrando restaurantes e o comércio local no site antes que este seja ativado. Todo o conteúdo, exceto mensagens na lista de discussões, é avaliado por funcionários da LifeAt para evitar material inapropriado.

Como no caso de qualquer lista de discussão, alguns participantes usam o serviço para se queixar o tempo todo, e por isso as administradoras de alguns condomínios solicitaram que Goldstein desativasse essa área do site, em seus edifícios. "Mas uma das administradoras descobriu que os moradores haviam simplesmente decidido criar um blog no Yahoo para continuar reclamando sem que a empresa soubesse, e por isso decidiu manter a lista de discussões aberta, para antecipar e resolver queixas", diz Goldstein.

Houve também experiências com sites de redes sociais sem fins lucrativos. Keith Hampton, sociólogo da Escola Annenberg de Comunicações, parte da Universidade da Pensilvânia, criou a I-Neighbors.org para estudar o papel que os sites podem exercer no reforço de relacionamentos reais. O site gratuito continua a crescer, e tem 45 mil membros, segundo Hampton. Ele considera que a LifeAt está se saindo bem, mas "em termos de impacto sobre a comunicação entre moradores e sobre a construção de novas relações sociais entre eles, esse modelo de sites de condomínios terá sucesso limitado".

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