quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Aquisições geram medo de uma nova bolha na Internet

A matemática do Vale do Silício está começando as ficar confusa uma vez mais. Empresas de Internet com nomes estranhos e poucos clientes vêm sendo adquiridas por preços polpudos. E os investidores, tendo aparentemente esquecido o que sofreram quando a primeira bolha da Internet estourou, exibem sintomas do distúrbio conhecido como exuberância irracional.

Vejam o caso do Facebook, um site de redes sociais que ainda não provou sua viabilidade financeira: consta que seu valor está sendo avaliado pelos investidores em até US$ 15 bilhões. Isso equivale a quase metade do valor de mercado do Yahoo, uma empresa com 38 vezes mais funcionários e, com base em estimativas sobre a receita do Facebook, 32 vezes mais faturamento.

O Google, que recentemente viu alta de suas ações para além da marca dos US$ 600, hoje tem valor de mercado maior que o da IBM, uma empresa que fatura oito vezes mais.

Em termos mais amplos, empresas iniciantes de Internet vêm atraindo investimentos com base em sua capacidade de atrair audiências, e não de gerar receitas - exatamente a mesma alquimia que, na opinião de muitos, gerou inflação e o estouro da primeira bolha do setor.

A alta nas percepções de valor de algumas empresas iniciantes chega até a surpreender alguns empresários que se beneficiam dela. Um ano atrás, o Yahoo investiu na Right Media, uma empresa de Nova York que está desenvolvendo uma rede de publicidade online. O valor avaliado da empresa, quando do investimento, era de US$ 200 milhões. Seis meses mais tarde, o Yahoo decidiu adquirir o grupo, e o preço de venda havia disparado para US$ 850 milhões.

O que mudou? De acordo com o vice-presidente de tecnologia da Right Media, Brian O'Kelley, muito pouco, exceto o fato de que os rivais do Yahoo, Microsoft e Google, estavam escrevendo cheques bilionários para adquirir redes de publicidade online, e o Yahoo acreditava ser necessário pagar o preço que fosse para se manter na disputa.

"Eu admito que fiquei rindo à toa", diz O'Kelley, 30, sobre a transação que lhe rendeu US$ 25 milhões. Ele deixou a Right Media e está criando uma nova empresa, e afirma que "de jeito nenhum quadruplicamos nosso valor em seis meses".

A tendência vem sendo descrita como um retorno à loucura (pelos céticos) ou como uma abordagem racional quanto às oportunidades ilimitadas que a Internet propicia (pelos verdadeiros crentes). Cobiça, medo e uma corrida desesperada para escolher o próximo grande vencedor estão jogando lenha na fogueira de um novo boom do Vale do Silício.

"Há com certeza muita coisa acontecendo, e o mercado não é racional", diz Tim O'Reilly, promotor de conferências de tecnologia e editor.

A criação da expressão "Web 2.0" é atribuída a O'Reilly. O termo se refere a uma nova geração de sites que encorajam os usuários a contribuir com conteúdo próprio. Sua conferência Web 2.0, que começa na quarta-feira em San Francisco, se tornou o ponto focal do otimismo quanto ao mais recente conjunto de ferramentas online que mudarão a sociedade. Mas isso não impede que O'Reilly se preocupe com a possibilidade de que talvez o setor esteja gerando número exagerado de empresas sem qualquer originalidade, planos de negócios insensatos e aquisições a preços absurdos.

"Quando a bolha inevitavelmente estourar", ele disse, "vai sobrar muita gente desempregada. De novo".

Avaliar uma empresa iniciante sempre foi uma combinação de ciência e especulação. Mas, como no primeiro boom da Internet e na recente disparada do mercado da habitação, profissionais experientes das finanças parecem estar dispostos a ceder a um estranho instinto que os leva a deixar de lado a ciência e confiar completamente na especulação.

Desta vez, as pessoas que estão se deixando seduzir pelo otimismo não são investidores caseiros ou inexperientes, mas empresas de capital para empreendimentos cujos cofres estão repletos de dinheiro fornecidos por fundos de hedge e fundos de investimento universitários. E muitos desses profissionais das finanças dizem que, agora, tudo é diferente.

Mais de 1,3 bilhão de pessoas em todo o mundo usam a Internet, muitas delas com velozes conexões de banda larga e dispostas a mergulhar na cultura digital. O influxo de verbas publicitárias para a web se tornou uma tendência irreversível, e oferece meios comprovados de ganhar dinheiro, para as empresas iniciantes, enquanto os modelos de negócios das empresas da bolha passada muitas vezes não passavam de prestidigitação.

"Os fatores ambientais são muito diferentes do que era o caso há oito anos", disse Roelof Botha, sócio da Sequoia Capital um dos primeiros investidores no YouTube. "O custo de fazer negócios caiu dramaticamente, e as empresas tradicionais de mídia despertaram para as oportunidades da web". "Isso vai permitir que, desta vez, o resultado seja diferente", afirma.

Alguns ligam o início da nova bolha à aquisição do grupo de telefonia via Internet Skype pelo eBay, em 2005, em uma transação avaliada em US$ 3,1 bilhões. Meg Whitman, a presidente-executiva do eBay, teria derrotado o Google em uma disputa pelo controle da companhia.

Este mês, o eBay reconheceu que havia pago demais pela Skype - cerca de US$ 1,43 bilhão a mais do que deveria, segundo a empresa -, e anunciou que o co-fundador da Skype, Niklas Zennstrom, havia deixado o grupo.

A aquisição do YouTube pelo Google, no ano passado, por US$ 1,65 bilhão, em uma transação que também gerou forte disputa entre diversos interessados, pode igualmente ter acelerado a transição rumo a valores astronômicos. Mas executivos do Google e muitos analistas argumentam que, caso o YouTube se torne o próximo gigante do entretenimento, o preço pode ter valido a pena.

Os valores imensos das transações no caso do YouTube e da Skype levaram os novos empresários da Internet a sonhar com riqueza improvável, e trouxeram de volta práticas que haviam sido desacreditadas na primeira bolha. "Estamos quase de volta aos erros de 2000", disse Aaron Kessler, analista de Internet na corretora Piper Jaffray. "As empresas estão comprando números de usuários, e não receita e lucros".

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