terça-feira, 27 de novembro de 2007

Do pincel aos sistemas interativos

Arte eletrônica abre novas possibilidades para os artistas criarem e osespectadores interagirem com as obras
SISSA ARRAES
Especial para o JB

Com o advento do computador e, em particular, da internet como suporteeletrônico, a concepção, linguagem, apresentação e percepção da arte nãosão mais as mesmas. Isso está acontecendo porque estamos vivendo umarevolução estética possibilitada por um aglomerado de meios de expressão: ainternet, o vídeo, o CD-ROM, a realidade virtual, entre outros.
A utilização dessas ferramentas possibilitou o nascimento da arte eletrônica,uma nova forma de comunicação entre homem-máquina. Fusão da arte com atecnologia, a arte eletrônica pode ser vista em espaços físicos concretos naforma de exposições, performances e podem ser vistas também virtualmente,na forma de sistemas interativos, internet, infografia, multimídia e realidade virtual.
Vale tudo. Não importa a forma como é produzida, e sim, se ela cumpre odever da arte, definido pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche como o de''antes de tudo, em primeiro lugar, embelezar a vida''. Dentro destaperspectiva, a arte eletrônica abriu novas possibilidades tanto para o artistaquanto para os espectadores. Estes últimos deixaram de ser merosobservadores passivos para interagir com as obras, participar do processocriativo e dar vida aos trabalhos. O interessante é que agora esta deinteratividade experiência - que antes era limitada ao espaço dos museus edas galerias - pode ser compartilhada por milhões de pessoassimultaneamente por meio da internet.
Mas, como será que acontece essa tal de arte eletrônica na prática? Existemcategorias diferentes de expressão dessa arte como é o caso da Web Art, aVideoarte, o CD-ROM, Arte Transgênica, produções artísticas que mesclamVídeo e Música, trabalhos em Realidade Virtual, Infografia, Performances eExposições. Dentre os estilos de arte eletrônica podemos destacar pelo menostrês muito interessantes pelas suas particularidades: Web Art, ArteTransgênica e Videoarte.
Na Web Art, as criações oferecem ao espectador algum tipo de interatividadee é preciso o uso de um navegador (Opera, Internet Explorer, Netscape oualgum outro) para que a obra seja visualizada. No site da 24a Bienal de SãoPaulo, realizada em 1998, por exemplo, as pessoas puderam ver a reproduçãodo quadro A Negra, de Tarsila do Amaral, com um ''bigode animado'',interferência que caracteriza este estilo.
A Arte Transgênica, apesar do nome estranho, é outra forma de expressão daarte eletrônica, caracterizada pela fusão da arte, tecnologia e biologia. Ascriações são geralmente acessadas a partir de uma página na internet e diferedas obras convencionais por não terminarem em si. Sua existência depende dainterferência de um observador que pode modificá-la de acordo com suavontade. Um exemplo concreto disso é o Cachorro Transgênicowww.ekac.org/transgenic.html, criado pelo artista brasileiro Eduardo Kac, umdos principais ícones da arte eletrônica. O projeto, que existe apenas nainternet, consiste na criação de um cachorro que emite luz fluorescentequando exposto à luz ultravioleta. Isto seria possível por meio de um enxertono cão com um gene extraído de um tipo de medusa existente no Oceano Pacífico.
Apesar de não ser tão mirabolante como a Arte Transgênica, uma dasexpressões artísticas mais utilizadas atualmente são as interferências emvídeo, estilo chamado de Videoarte, e muito bem representado pelo artistaamericano Gary Hill, mestre na fusão da arte com a tecnologia. Hill criou nosanos 70 esculturas de som e explorou ao máximo as possibilidades deste meiocom suas interferências. Um de seus trabalhos, intitulado Remarks on color,mostrava 24 vídeos em um único canal.
E a arte eletrônica não pára por aí. Existem hoje no mundo, e principalmenteno Brasil, diversas produções audiovisuais que utilizam outros meios deexpressão, a exemplo do CD-ROM e da realidade virtual. Há também situaçõesem que ocorre uma mistura de meios, como é o caso das performanceshíbridas que mesclam os elementos vídeo e música.
Para aqueles que desejam se aprofundar no assunto, uma boa pedida évisitar os trabalhos apresentados no VideoBrasil - Festival de Arte EletrônicaInternacional, no Sesc Pompéia, em São Paulo. O evento, que chegou a 13aedição este ano, teve 135 trabalhos audiovisuais de 15 países inscritos entreas categorias web art, CD-ROM e vídeo. Com o tema Fluxos, Fusões eAssimilações, a mostra fica aberta a visitação pública até o dia 21 de outubro.
Bastidores da arte eletrônica
Dentre os artistas que deram contribuições para a arte eletrônica podemosdestacar alguns que devem ser sempre lembrados pela criatividade esuperação dos limites entre a arte e a tecnologia.
São eles:
Eduardo Kac - Artista brasileiro nascido no Rio de Janeiro, Kac inventou, em1983, a holopoesia, uma nova linguagem poética e, em 1986, criou a arte datelepresença, quando apresentou na mostra Brasil High Tech um robô decontrole remoto por meio do qual participantes interagiam. Kac atualmente éprofessor de arte eletrônica na The School of the Art Institute of Chicago.{www.ekac.org}
Gary Hill - Referência histórica para a videoarte, o artista americano Gary Hill émestre na fusão da arte com a tecnologia, tendo explorado ao máximo aspossibilidades do vídeo. Hill é autor de instalações consagradas comoRemembering Paralinguay, Wall Piece e Remarks on Color. Seustrabalhos podem ser encontrados em www.stationhill.org/artists/GHpage.htmle www.artreview.com/art/garyhill/hill.html
Roman Verostko - Um dos pioneiros da arte eletrônica, Verostko acredita queela se caracteriza por qualquer trabalho artístico que seja criado comferramentas eletrônicas. Veja em www.verostko.com/
Roy Ascott - Ícone da arte eletrônica, Ascott é fundador do Centro dePesquisa Avançada em Artes Interativas da Universidade do País de Gales, emNewport, Reino Unido. Ele foi o autor dos primeiros projetos artísticos detelemática do mundo e hoje cria obras interativas na internet. Confira emwww.olats.org/colloque/participants/ascott/index.shtml

Nenhum comentário: