domingo, 19 de agosto de 2007

Agora, a vida real participa do jogo

Os novos games dão a sensação de realidade. Se chove no estádio de verdade, o gramado de sua réplica virtual também fica escorregadio

Fotos divulgação
O jogo de guerra Crysis, com lançamento previsto para novembro: paisagens perfeitas e cenários que são alterados pela movimentação dos personagens

Que grau de realismo será possível atingir num jogo de computador? Ainda não está disponível a imersão total – aquele limite de interatividade no cenário em três dimensões que serve de local de lazer para a tripulação em Jornada nas Estrelas. O que se tem agora, contudo, já ultrapassou o jogo tradicional e merece ser chamado de simulador da realidade. Turbinada por tecnologias de desenvolvimento recente, uma nova fornada de videogames reserva aos jogadores a sensação de envolvimento como nunca se viu antes. Alguns dos jogos já estão à venda, outros têm lançamento previsto para os próximos meses. A primeira coisa que chama atenção é o hiper-realismo das imagens. Tanto os personagens quanto os cenários em que eles se movem parecem tirados do cinema. É como se o jogador estivesse no comando de atores de carne e osso. Ainda mais empolgante são aqueles que permitem que personagens e objetos virtuais reajam a estímulos do mundo real. Que a um toque no joystick as cenas sejam influenciadas pelas leis da física. "Nosso objetivo é aprofundar ainda mais a imersão do jogador nos games, tornar sua experiência mais intensa", diz Cevat Yerli, presidente da alemã Crytek, uma das principais desenvolvedoras de jogos para computador.

Lançado em julho, o game de futebol americano da Electronic Arts reproduz na tela as condições do clima que realmente ocorram no estádio em que a partida esteja sendo disputada. Assim, se o jogo tiver como cenário o estádio de Dallas, no Texas, e estiver chovendo naquele instante na cidade, a disputa no computador também ocorrerá sob chuva. Com o piso escorregadio, os jogadores se movimentam de forma mais lenta. O truque é possível graças a uma conexão direta, pela internet, entre o game e o The Weather Channel, canal de televisão americano que informa as condições meteorológicas. No mesmo jogo, podem-se obter estatísticas sobre os jogadores dos times de verdade no site da ESPN e transferi-las para seus equivalentes virtuais – se um jogador torceu o tornozelo na vida real, aparecerá machucado no game.

O Forza MotorSport 2, game de corridas da Microsoft cuja última versão chegou às lojas em junho, simula alterações normalmente sofridas pelos carros numa competição de verdade. Se um piloto bate durante a prova, o veículo passa a apresentar desempenho compatível com o tipo e a intensidade da colisão. Nos níveis avançados do jogo, os pneus e a suspensão também respondem a mudanças de temperatura e pressão determinadas pelo jogador. Para testar o brinquedo, uma equipe com mais de 300 pessoas, com engenheiros da Ferrari, pilotos e físicos, fez simulações de desempenho de carros no mesmo percurso numa pista real e no game. Resultados quase idênticos foram obtidos nos dois casos. O Grand Theft Auto IV (GTA), um dos lançamentos mais aguardados da indústria dos games, promete novidades com relação às versões anteriores. Os coadjuvantes espalhados pelas ruas são mais interativos: fumam, usam celulares, lêem jornais e comem enquanto passeiam. É possível fazer com que o personagem central, um ladrão de carros, pare um táxi e descanse apreciando os cenários do jogo ao longo do trajeto indicado ao motorista.

Os novos recursos dos games se tornaram possíveis graças ao advento da sétima geração de consoles, lançada no fim do ano passado. Ela é formada pelo Sony PlayStation 3 (PS3), pelo Microsoft Xbox 360 e pelo Nintendo Wii. O chip central do PS3 trabalha com nove núcleos em paralelo – nos desktops, esse número não passa de quatro. Tal avanço ampliou em 35 vezes a capacidade de processamento do aparelho com relação à de seu antecessor, o PS2. Os elementos que compõem a tela de um game são formados por pequenos triângulos que criam as imagens em três dimensões. Quanto maior a capacidade do computador de ler essas informações, mais detalhado será o cenário gerado na tela. A atual geração de máquinas tem capacidade teórica de processar até 1 bilhão de triângulos por segundo, contra, no máximo, 60 milhões de polígonos por segundo da geração que a precedeu. A brincadeira ficou mais divertida.

HIPER-REALISMO

O poder do acaso no campo de batalha

Medal of Honor: Airborne não tem um roteiro linear. O objetivo do jogo pode ser atingido de várias maneiras. Por exemplo: o personagem salta de pára-quedas sobre um campo de batalha da II Guerra e o jogador escolhe o ponto exato em que ele vai pousar. Dependendo do local da queda, os desafios mudam. Lançamento: em setembro, para PC, PlayStation 3 e Xbox 360

LEIS DA FÍSICA

Marcas de pneus

É possível escolher entre 300 modelos de carros de cinqüenta marcas no Forza MotorSport 2, da Microsoft. Entre eles, a Ferrari (acima) e o Maserati (à direita). O hiper-realismo influi no resultado: se houver uma colisão, os estragos decorrentes vão alterar o desempenho do carro pelo restante do jogo. As marcas deixadas na pista pelos competidores são reproduções exatas de marcas reais filmadas em autódromos. Lançado apenas para Xbox 360, pode ser jogado com um controle especial em formato de volante, com alavanca de marcha e pedais.

FORÇA DA NATUREZA

Os jogadores entram no clima

O jogo de futebol americano da Electronic Arts tem uma novidade surpreendente: as condições do tempo na vida real são reproduzidas no estádio virtual. Isso é possível graças à conexão direta entre o game e o canal de meteorologia The Weather Channel. Se neva ou chove, os jogadores ficam mais lentos. No calor, cansam-se mais rápido.

COMO É FEITO

Os movimentos são de Ronaldinho

Os dribles dos jogadores do game Fifa08 reproduzem a movimentação real de atletas famosos. Para isso, Ronaldinho Gaúcho, um dos modelos, foi filmado simultaneamente por 54 câmeras. Para facilitar o registro da imagem, os atletas vestiram roupas especiais, com pontos de luz estratégicos. Na foto acima, o suíço Tranquillo Barnetta, do Bayer Leverkusen, e o austríaco Andreas Ivanschitz, do futebol grego, prontos para ser filmados no estúdio.

Faces perfeitas

O rosto dos personagens, com movimentos faciais realistas, é um destaque do jogo de guerra Crysis, da Crytec. O segredo está nos músculos virtuais criados por uma nova tecnologia gráfica. O mesmo realismo aparece quando a paisagem é devastada por tiros e explosões. Abaixo, as etapas da construção de um personagem. Lançamento: novembro, apenas para PC.

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