terça-feira, 4 de setembro de 2007

Os Intelectuais e as Novas Tecnologias


A inteligênica possível do século xxI
Pierre Lévy

O intelecto e seus intelectuais: a consciência crítica
Há várias definições possíveis de um intelectual.
Uma delas é mais estreita, limitada a uma certa zona
cultural e histórica, enquanto a outra, de minha preferência,
faz da função intelectual uma dimensão
universal de toda a cultura.
Segundo a definição usual, os intelectuais são uma
categoria particular de pensadores e de escritores
que intervêm ativamente nas questões públicas. Eles
aparecem na Europa durante a época das Luzes, no
momento em que a opinião pública – que se expressa
na imprensa – se encontra em desaceleração pela
sociabilidade urbana. O papel desta categoria social
na formação da consciência coletiva aumenta nos
séculos XIX e XX, paralelamente às profundas transformações
das sociedades européias, depois mundiais,
por causa da Revolução Industrial, da urbanização
e do desenvolvimento das comunicações de
massa. Os intelectuais encabeçaram ou se tornaram
os porta-vozes dos movimentos sociais, revolucionários,
socialistas, fascistas, nacionalistas, democráticos
e outros que sacudiram a vida pública nos três
últimos séculos. Às vezes politicamente engajados,
atacando ou incensando os poderes políticos, as estruturas
econômicas, as tradições culturais ou as
evoluções da civilização em curso, os intelectuais se
consideram, freqüentemente, como os portadores da
consciência crítica, senão da consciência moral (herdeiros,
nisso, da função clerical), das sociedades das
quais são egressos. Respeitados por suas realizações
artísticas, literárias ou filosóficas, suas intervenções
no campo midiático, relativamente circunscrito, podiam
ter um peso considerável. Mas, desde o desenvolvimento
acelerado das mídias e das redes eletrônicas
no último quarto do século XX, e, mais ainda,
desde a explosão do ciberespaço por volta do ano
2000, que, pelo contrário, o efeito foi o de dar a
palavra a todo mundo (ou quase). Assim, a voz dos
intelectuais parece, cada vez mais, difícil de se fazer
ouvir e, talvez, cada vez menos necessária com a
maré crescente de jornalistas, de “blogueiros” e de
comunicadores, em todos os gêneros. As empresas
anônimas de inteligência coletiva no Wikipedia
empalidecem o prestígio do autor, do intelectualfonte-
de-conhecimento.

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