quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Geração "tudo ao mesmo tempo" quebra paradigmas

Estamos na geração do "tudo ao mesmo tempo". Se os jovens, historicamente, sempre foram curiosos e buscaram mais e mais informações, com a multiplicação das opções da revolução digital - incluindo no balaio não só a internet, mas o celular e outras traquitanas - a mídia saiu do controle de uma meia dúzia de grandes conglomerados e, hoje, está nas mãos dos próprios usuários.

E a galera que conheceu a internet desde cedo ou que, literalmente, cresceu com ela, faz uso intensivo de recursos como blogs, serviços de compartilhamento de arquivos, sites de comunicação pela rede, etc. Grande parte dos recursos que estão no infográfico aí embaixo são usados ao mesmo tempo e sempre.

"Se antes a televisão era quem reinava no centro das atenções, hoje isso está muito mais disperso na vida dos jovens", explica o pesquisador do Ibope Inteligência José Calazans. "Esse público, hoje, tem muito mais opções de acesso à informação do que em qualquer outro momento da história. E ele quer ter controle sobre o que vê e a hora em que vê."

Mas essa relação ao mesmo tempo intensa e dispersa acaba fazendo com que os jovens tenham uma visão muito fragmentada da mídia, afirma Ana Maria Brambilla, pesquisadora em comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

"Essa geração não absorve tudo por completo. Não dá para entender toda a informação que recebem. O que acontece é que, cada vez mais, perdem a paciência por textos longos, como os de jornais e revistas. Tudo tem de ser curto, como um SMS do celular ou uma mensagem curta do Twitter", diz Ana Maria.

Essas transformações nas formas de comunicação e de relação com a mídia, entretanto, não são apenas fruto da tecnologia, mas da própria mutação de valores pela qual a geração atual está passando, afirma Andréa Nolf, do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC-SP."Não é apenas uma questão de evolução da internet", diz Andréa. "Essa geração busca mais autoconhecimento, proximidade com a família, paz, transparência... E isso se reflete na web. A rede não se desenvolve sozinha, mas por pessoas que criam sites, blogs, etc., de acordo com o que desejam."

Para Andréa, uma das coisas a que os jovens de hoje se acostumaram é que nada mais "é", tudo "foi". "Em um curto período de tempo, eles viram vários paradigmas sendo quebrados", explica. "Instituições há muito estabelecidas, como a dos direitos autorais e a da centralização da mídia, já caíram. E eles presenciaram isso. Para eles é normal ver tudo o que antes existia acabar, sofrer uma mutação."

É por isso que, para ela, os jovens estão na vanguarda da disseminação das transformações que a web está carregando.Uma das mudanças dessa geração é quanto à questão de direitos autorais, o sempre polêmico assunto de pirataria. "Os jovens de hoje têm uma cultura de gratuidade muito grande. Não querem pagar por informação, por filmes, músicas, etc.", diz Calazans. "A própria indústria terá de se acostumar com essa questão de direitos autorais. É um dos dogmas que os jovens já derrubaram", diz Andréa.

Outra mutação é na forma como se informam. Hoje, para os jovens, não há mais receptores. O processo de comunicação se dá em mão dupla: transmissão e recepção direta, pela web. Seja por blogs, fotologs, sites de colaboração, como o Wikipedia ou o Digg.

"Os jovens que criam blogs, por exemplo, têm o ideal de virar celebridades, ganhar reconhecimento. Para eles, aquela mídia antiga, inalcançável, já não existe mais. As gerações antigas queriam se ver na TV e não podiam. As novas, pela internet, podem", diz Ana Maria.

E por meio de blogs como esses, por exemplo, se formam comunidades de leitores/publicadores. "O jovem está muito preocupado em participar de uma comunidade virtual, com pessoas que compartilhem dos mesmos gostos", diz Calazans. "Ele confia muito mais nos membros desse grupo do que em jornais, por exemplo. Por isso busca informações em blogs."

E o que podemos esperar dos membros dessa geração quando eles crescerem, partirem para o mercado de trabalho e se tornarem pais? "Em 15 anos, quem nasceu com a internet deverá perder a distinção do que é offline e online", diz o historiador Juliano Spyer. "Para eles, estar na internet será tão normal como falar ao telefone. Brincar no pátio com os amigos será o mesmo do que em um game pela internet com amigos virtuais do Japão. Para esse grupo, a vida online e a offline serão complementares, sem separação."

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